segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O Aviso

    Maria observava a cidade passar diante de seus olhos, através do vidro de um café bem localizado, no centro. Via os carros passar e deixar apenas os rastros de luminosidade dos faróis, estava ficando tarde, e Maria sabia. 
     Era passado das 23 horas e o café estava para fechar, ao ser convidada a se retirar, Maria pagou seu café e sorriu com gentileza, agradeceu pelo atendimento e desejou felicidades ao atendente e disse-lhe para  tomar cuidado ao voltar para sua casa. Confuso e sem saber sobre o que aquela senhora falava, o atendente sorriu de volta e agradeceu, ficou observando a velha Maria ir embora junto com as luzes do estabelecimento. 
      Depois de caminhar por duas quadras, Maria olhou para trás e observou aquele lugar que tanto amava e no qual passou os melhores dias de sua vida, fora lá que conheceu o amor de sua vida, o mesmo lugar onde mais tarde ele pediu-a em casamento. Sorriu mais uma vez, sabia que seria a última vez. Seu marido havia morrido há três anos, no final da  guerra em 1945. Ah se ele estivesse aguentado mais alguns dias. Foi uma das últimas vidas perdidas. Agora Maria sabia, sua hora havia chegado, sem filhos, nem netos, Maria vivia seus dias de uma longa solidão, mas não desistiu, sabia que não devia estar naquele lugar, naquela hora, mas algo dentro de seu coração dizia que ali onde conheceu e amou seu marido, seria também o lugar do reencontro. Estava nervosa e seus olhos cheio de lágrimas, já sentia a presença de seu amor mais perto e quanto devaneava Maria ouviu um grito e ao olhar para trás encontrou o atendente do café, estava sendo assaltado.
      A senhora já não conseguia mais correr como antes pois já estava com seus 45 anos, havia passado dois anos da esperança de vida da época, e as doenças cardíacas estavam consumindo sua saúde. Então sem pensar a senhora foi em direção ao assalto e ao chegar lá piscou para o atendente e levou o dedo aos lábio, pedindo para esse fingir que ela não estava ali. Em silêncio, pegou uma pedra solta da rua e jogou-a na cabeça do assaltante,  pelas costas, deixando- o tonto, dando assim, tempo para o atendente sair correndo em disparada, com um agradecimento desesperado, deixando a velha Maria para trás por pedido da própria. 
      Enquanto corria em direção de sua casa, o jovem pensou em sua família e seus filhos e também pensou em como Maria havia avisado para ele se cuidar ao sair de seu trabalho, e ficou imaginando, como aquela velha sabia de que algo iria acontecer. Ficou pensando no que iria acontecer a pobre velhinha que como um anjo tinha salvado sua vida e junto com ele o sustento de sua família. Ouviu um tiro. Congelou. Correu mais rápido e naquele momento sabia que Maria não tinha mais vida, ele nem pode agradece-la como merecia, correu mais rápido e mais rápido e misturadas ou suor começaram a cair lágrimas salgadas pelo seu rosto, diferente da tristeza amarga que sentia. Quis voltar no tempo e tentar ajudar a senhora, pensou nas pessoas que essa poderia estar deixando para trás e enquanto corria com sua dor e culpa o atendente olhou para o céu pois tinha certeza que era para lá que aquela boa senhora estava indo. 
         Ao olhar para o céu uma brisa suave e quente sobrou em rosto, sentiu-se beijado e naquele momento viu algo incrível, a senhora que fora vitima do cruel crime sorria para ele e ao seu lado estava um senhor, parecia um soldado, os dois sussurraram para o rapaz um agradecimento e juntos de mãos dadas, abriram suas asas e voaram em direção ao céu, para viverem juntos pela eternidade.
         Maria já não pensava ser tarde para nada, pois agora era um anjo. O atendente sabia que fora aquele senhor que alertou Maria para o que aconteceria a ele. Era só um chamado.

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