domingo, 10 de abril de 2016

Caixa de sonhos

 
  Rita, a menina que sonhava, abriu sua caixa de sonhos e lá dentro viu que haviam crescido mais um pouco desde a última vez que resolveu dar uma espiada neles. Quase já não cabiam na caixa onde os colocara, estavam espremidos e amaçados e por vezes, Rita fingia que estavam também esquecidos.
    Era engraçado como acontecia, ela sonhava, visualizava, fazia planos, mas na hora do incetivo, acabava engavetando mais um. A menina já havia desistido de muitos, mas novos sempre acabavam chegando, o que fazia Rita sorrir mais uma vez, e planejar mais uma vez e quando conversava com seus botões, os guardava na caixa mais uma vez. Por muitas e muitas vezes foi assim, Rita já quase não se permitia sonhar, não queria mais viajar, não queria mais escrever, e resolveu seguir os conselhos dos pais para qual faculdade cursar. Afinal, sonhar não alimenta ninguém, à não ser que o prato principal seja de frustrações ao molho de lágrimas. 
    Já não via mais graça, na mesma rotina e nas mesmas certezas. Sentia falta dos seus sonhos e novas expectativas, mas do que adiantava essa saudade se vinham acompanhadas de empecilhos e pedras de muitas toneladas no caminho? Sem contar as vozes chatas que em coro repetiam que nada daria certo. Então por mais um tempo Rita esqueceu a bendita caixa. 
    Haviam se passado alguns meses e Rita já não sonhava mais, não sorria mais e não cantava mais. Não queria mais viajar e a muito não escrevia mais nada, a faculdade ia bem, sempre foi uma excelente aluna, mas poxa que vida chata e sem alegria. Era tudo uma rotina, Rita já nem sabia se ainda queria aquela nostalgia. 
    Então, num certo dia de chuva, a menina que costumava sonhar, achou uma caixa a muito esquecida em um canto do seu quarto e ao abri-la, sem lembrar do que havia dentro, deixou escapar todos seus sonhos, que tomaram conta do seu coração. A menina ficou sorridente, mas com medo da frustração, olhou para a chuva e pediu sua ajuda para guardar aqueles sonhos.
     Observou como a chuva caia livre, selvagem e sem limites, sem se preocupar com quem iria molhar, se agradaria ou não e mesmo que houvesse sol, mais cedo ou mais tarde voltava, trazendo para Rita, a menina que costumava sonhar, companhia naquela solidão.
     - Mas que boba que sou, se a chuva é sem limites, porque eu deveria ter os meus? O que mais me impede e sonhar senão o medo? Eu vou é criar coragem, para que esperar para fazer o ano que vem se posso fazer esse mês? E sei que posso, não me interessa quantos descrentes apareçam em meu caminho. Assim como a chuva, eu sou livre, selvagem e sem limites. Posso cair e me apagar mas sempre posso voltar, desde que sempre me lembre de ter coragem, mas também de que a coragem não é a ausência do medo é só algo mais forte que ele, sem medo não existe coragem e sem sonhos não existe vida. 
       E assim Rita, voltou a sonhar, acompanhada de medos e descrentes, mas também de confiança e coragem e daquele dia em diante ela sabia, que só ela estabeleceria sua metas e seus dias e que se dane quem prefere adiar seus sonhos. Ela não era uma dessas. Ela tinha a si mesma e isso era o suficiente para saber que ela conseguiria o que quisesse.
   

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